quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O DIZIMO NA BÍBLIA (Texto do Padre Zezinho, scj)

Numa Bíblia de mais de mil páginas se juntarmos os textos que falam de dízimo, arrecadação e contribuição, não há mais do que três páginas. Se a Bíblia é um livro inspirado por Deus como pregamos, então Deus não dá tanta ênfase ao dízimo. Dá muito mais ênfase aos direitos humanos e à justiça e à paz. Jesus é claro sobre isso e questiona os contribuintes e arrecadadores de dízimo, quando diz que se alguém tiver alguma oferta diante do altar e se lembrar que algum irmão se sente injustiçado por ele, deve deixar seu dízimo ou oferta ali e primeiro ir fazer justiça e paz. Só então deve voltar (Mt 5,23). Jesus acha que não é correto alguém posar de fiel diante de Deus se tal contribuinte não sabe ser irmão do outro. Tributo, dízimo, contribuição são verbetes com relativamente poucas passagens na Bíblia. Sobre o dízimo há 2 passagens no Gênesis, 9 no Levítico, 6 nos Números, 8 no Deuteronômio, 4 no 2 Cr, 7 no Neemias, 1 em Amós, 2 Malaquias... 1 em Mateus 23,23 e 2 em Lucas que ainda por cima mostram Jesus questionando a importância do dízimo; 5 em Hebreus. Há mais, porém a pregação da justiça para com os pobres é muito mais intensa. Se o fiel se der ao trabalho de ver os outros verbetes sobre amor, caridade, palavra de Deus, justiça, paz, pobres, verá o que é essencial para Deus. A Bíblia gasta muito pouco tempo com o dízimo. Se o fiel lesse bem tudo aquilo que ao dízimo se refere veria textos contundentes a exigir o dízimo integral e condenando o dízimo avaro como em Ml 3,8-12, mas veria também Jesus questionando os que acham que pagar o dízimo é prova de santidade... (Mt 23,23-24). Acusa os que insistem no dízimo acima da justiça e do respeito pelos outros, de filtrar um mosquito e engolir um camelo. E vai mais longe ao dizer em Lc 18, 10-14 que o fariseu, que pagava o dízimo integral profetizado em Ml 3,8-12, saiu diante do altar em pecado e que o publicano, tido como pecador por arrecadar dinheiro e impostos fora do templo, saiu arrependido e purificado. (Lc 18,14 ). A conclusão não é contra a contribuição ou contra o dízimo e, sim, contra ameaças veladas aos que não pagam, imposição ou ênfase excessiva no dízimo como forma de ser santo. Jesus questiona isso! Ajudar os carentes certamente justifica um fiel (Mt 25,31-46). Pagar o dízimo, nem tanto ( Lc 18, 14). Há coisa mais essenciais do que ser dizimista de uma igreja. Leiamos (Lc 11, 42). A prática da compaixão e da justiça nos torna santos. O dízimo é décimo: mas é um décimo que não pode ser imposto! Suspeite-se de quem dá com medo e de quem ameaça o fiel que não dá.

Um comentário:

Aureliano de Sousa Gondim disse...

A excelência e capacidade dirigida do Pe. Zezinho é digna de muito respeito e atenção. Declaro-me, como um de muitos que apreciam suas músicas e escritos. A respeito do texto, desdobro-me a entender, mas também a fazer algumas observações. É bem verdade que o montante elencado pelas páginas da Sagrada Escritura sobre dízimo seja mínima, porém não limita a importância desse acontecimento na vida do povo de Deus. Se pensarmos isso com uma visão hierárquica, cometeríamos talvez injustiça com muitos profetas, discípulos e até mesmo com o Pai e a Mãe de Jesus, os quais nas narrativas da Bíblia dariam poucas páginas, no entanto não se pode falar na história sem os mencionar.
Ao tornar-se dizimista o fiel se aproxima de Deus, quebra a casca a qual estava encubado não vendo sentido algum em: servir, praticar a caridade, a fé, o amor e entender as diversidades oferecidas cotidianamente por Deus Pai. Deixar entendido que dízimo sem os “verbetes”: Fé, caridade, amor não torna o dízimo entregue agradável a Deus é bem verdade. O dízimo não santifica, mas, feito-o no seu verdadeiro sentido é sem dúvida alguma sinal de conversão e através dela, o amor ao próximo e a Deus por Jesus Cristo como foi com São Paulo. Deixar subentendido que podemos deixar de lado o dízimo e praticarmos direto nossa caridade para expressar nosso amor pelo próximo é muito arriscado. Dízimo é dízimo; oferta é oferta; caridade é caridade; contribuição é contribuição. Todas essas formas em momentos diferentes servem e são boas, o que as diferenciam é o sentimento que moveu a pessoa a fazê-lo.
Dízimo revertido com respeito a Deus e com seriedades torna o fiel co-responsável com os que a Igreja ajuda, ensina e capacita para uma visão e vivência Cristã.

Por: Antonio Iranildo Dantas